Armando Vara
«Armando Vara não deixou de ser uma figura influente no PS e fora dele depois de sair do Governo em 2001. Regressou à Caixa Geral de Depósitos (CGD) como director e, com a subida de José Sócrates a primeiro-ministro, em 2005, foi nomeado para a administração do banco público. Aí, mesmo sem o protagonismo mediático do tempo em que ocupou várias pastas dos governos de Guterres, manteve a capacidade de manobrar nos bastidores, atributo que lhe está colado desde o tempo em que ascendeu à presidência da distrital do PS de Bragança e se tornou numa peça chave do aparelho socialista.
O ex-secretário de Estado, de 54 anos, apanhado em 2001 no escândalo da Fundação para a Prevenção e Segurança - instituição privada que fundou usando dinheiros públicos quando estava no Governo - acabaria por ser chamado para altos cargos, enquanto administrador nomeado para a CGD pelo actual Governo. Nessa altura, dentro e fora do PS, houve quem denunciasse a atribuição do "job" a um reconhecido "boy" da confiança de Sócrates. Mas isso nunca reduziu o seu espaço de manobra dentro da instituição.
O militante socialista, para além de responsável pela área do crédito da CGD, tutela as participações financeiras do banco, nomeadamente na EDP, na PT e na PT Multimédia, no BCP e na Cimpor, e tem a seu cargo as direcções de particulares e de negócios das regiões de Lisboa e do Sul.
A subida de Vara na CGD tem sido explicada pelo PSD e por vários comentadores e economistas como uma opção governativa, baseada em cumplicidades partidárias. Isto porque Vara não tem um percurso profissional de excelência na banca e que da sua passagem pelo Executivo pouco sobrou para além de uma medida sonante - a campanha contra a sinistralidade "Tolerância Zero" - e a polémica que o levaria à demissão.
Os amigos contrapõem que Vara foi vítima de uma campanha para o destruir, numa altura em que preparava o Euro 2004 e que, não tendo qualificações brilhantes, compensa as suas fragilidades com o seu empreendorismo.
Natural de Lagarelhos, concelho de Vinhais, em Trás-os-Montes, Vara galgou degraus dentro do PS até, em 1987, encabeçar a lista do partido em Bragança. Tinha então apenas o liceu, atendia ao balcão da CGD de Mogadouro, mas Mário Soares já lhe reconhecia grandes qualidades como dirigente local.
De militante a governante
Anos depois foi chamado ao secretariado nacional e, com Guterres, ascendeu ao centro do poder socialista, sendo próximo de Jorge Coelho, Sócrates, Laurentino Dias e Narciso Miranda. Entretanto havia entrado para a Fundação José Fontana, encarregue de formar quadros do partido, pela mão de Maldonado Gonelha, um maçon do Grande Oriente Lusitano, a que já foi noticiado Vara também pertencer.
Entre 1995 e 2002 passou pela secretaria de Estado da Administração Interna, tornou-se ministro-adjunto de Guterres, mas foi durante a passagem efémera pela tutela do Desporto que o escândalo da Fundação para a Prevenção e Segurança forçou a saída do Executivo. Vara considerou-se "vítima de uma onda mediática que acabou por arrastar as instituições do Estado, que não conseguiram produzir declarações sérias" e, em Julho de 2001, com a polémica no auge, esclareceu o seu futuro político: "É uma viagem sem regresso".
Guterres sai, mas antes ainda Vara reentra na CGD, agora como director adjunto de Obras e Património. Com Ferro Rodrigues na liderança do PS, afasta-se da direcção do partido mas não deixa de intervir, tendo apoiado de forma clara Fátima Felgueiras, contra a posição do seu secretário-geral, alegando que "os partidos não podem ser juízes de ninguém".
Entretanto foram sendo revelados, pela imprensa, os processos menos claros, ou as cumplicidades perigosas, que havia protagonizado. Falou-se a propósito do seu curso de Relações Internacionais, tirado na mesma Universidade Independente onde Sócrates obteve o seu diploma. Isto porque, o fim do curso ocorreu três dias antes da nomeação para a administração da CGD e, nesse período em que houve várias mudanças na direcção da UnI, chegou a ser nomeado para reitor Jorge Roberto, um subordinado do socialista na CGD. A tudo isto, ou Vara não respondeu, ou desmentiu cirurgicamente, à sua maneira, como no caso da Independente. "Pimenta no rabinho dos outros é refresco", disse numa entrevista, referindo-se à forma como o PSD criticou o processo da licenciatura de Sócrates. Isto para além das relações entre Vara, Sócrates e António Morais, o docente que deu quatro das cinco cadeiras com que o primeiro-ministro terminou o seu curso de engenharia civil.»
[in Público - em 29.12.2007]
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