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in Jornal Público, 23 de Junho de 2005«Que privilégios?
Sou professor desde 1985. Tirei uma licenciatura em Ensino que paguei com o meu trabalho. Tenho duas pós-graduações que paguei do meu bolso.
Encontro-me (congelado) no 8.º Escalão da Carreira Docente.
Leccionei, durante o presente ano lectivo, as disciplinas de Língua Portuguesa, Francês, Oficina de Teatro (oferta da escola), Área de Projecto e Formação Cívica. Fui director de turma e responsável pela coordenação pedagógica da Formação Cívica. Ponho do meu bolso muitas vezes para que alguns alunos possam participar nas actividades (este ano, por exemplo, paguei os bilhetes a alunos numa visita de estudo ao Teatro Nacional D. Maria II).
Trabalhei durante o feriado municipal (7 de Junho), no dia 9 até às 24 horas e no sábado, 11 de Junho, toda a manhã a montar uma exposição de todos os trabalhos da Área de Projecto. Carreguei escadotes, expositores, subi e desci. Não meti um único atestado médico durante o ano. E vêm falar da porra dos privilégios.
Recebi de vencimento, no mês de Maio, 1437,22 euros.
Descontei para a Caixa Geral de Aposentações/Segurança Social 201,41 euros e de IRS 433,00 euros.
Privilégios? Troco já por uma outra profissão com o
mesmo salário e que se f... os privilégios!
Não vivo no luxo. Não passo férias no estrangeiro.
Pago mensalmente à CGD a hipoteca de um T3, sem garagem e sem piscina. Pago mensalmente um Honda Jazz.
Não tenho Audi, BMW, Mercedes, jipe, casa de férias.
Que porra de privilégios?
Venham dar aulas. Venham ver como se comporta a maioria dos alunos dentro e fora da sala de aulas! Venham ver a falta de autoridade, a falta de respeito, o enxovalho quase permanente! Com isto não está preocupado o Ministério da Educação, nem a Confap. Areia para os olhos!
Sou professor, repito, não um malfeitor. Não sou comunista, não sou sindicalizado e vou aderir à greve porque estou farto da incompetência e da prepotência do ministério, da Confap e da opinião pública!»
JOSÉ JOAQUIM ARAÚJO - Carnaxide