Uma questão de romantismo
- E como é que vai a tua relação com a Cristina?
- Acabou.
- Pois, já estava à espera. Fartei-me de te avisar que não lhe davas a atenção que ela precisava.
- Passava o tempo todo a queixar-se de que eu não era romântico.
- Já sabes como é que são as mulheres...
- Mas o que é engraçado é que, no dia em que eu senti que ela estava prestes a acabar comigo, fiz-lhe uma surpresa.
- Não acredito...
- Sim. À tarde, mandei-lhe entregar em casa um ramo de flores exóticas e um vestido que me custou os olhos da cara, com um cartãozinho manuscrito a dizer para estar pronta às oito da noite. Depois, fui buscá-la num descapotável alugado, motorista incluído, e jantámos à luz de velas num restaurante italiano, com vista para o mar. No final da refeição, propus darmos um passeio na praia. Como estava uma brisa fria, despi o meu casaco e cobri-lhe os ombros enregelados. Depois, desafiei-a a ver o que estava dentro de um dos bolsos. Tirou de lá uma caixinha de ourivesaria, abriu-a, e os seus olhos brilharam quase tanto como o anel que ela andava há meses a namorar, a partir da montra.
- E depois meteste a pata na poça, claro.
- Não. Recitei um poema de amor que eu próprio lhe escrevi.
- Então, porque é que acabaram?
- Não sei. De repente, largou-me a mão e foi-se embora. Disse que aquilo era romantismo a mais. Que eu tinha de passar a ser mais espontâneo.
(in Gato Fedorento)
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